6 de abril de 2018

10 fatos que você precisa saber sobre o tubarão na orla de Fortaleza


  Na tarde da última quarta-feira (4), um tubarão foi filmado pelo representante comercial Eloi Frota, 44 anos, a cerca de um quilômetro da orla de Fortaleza, nas proximidades da praia do Iate Clube.
  Na internet, em meio às verdades, surgem dezenas de boatos e temores. O professor Hugo Fernandes listou alguns fatos importantes para que você entenda se realmente há tubarão em Fortaleza e quais os riscos disso.



  • 1 – Sim, existem tubarões em Fortaleza. Há mais de 30 espécies documentadas. O mar é o habitat deles e devemos encarar isso como algo perfeitamente normal.
  • 2 – O animal é realmente um tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier), que pode chegar a 6 metros de comprimento, encontrado em águas tropicais e subtropicais. É fato que ele é dificilmente avistado em Fortaleza, mas a ocorrência é esperada e a pesca de indivíduos menores não é muito incomum.
  • 3 – Ele realmente é um tubarão considerado como potencialmente perigoso. Está na lista dos mais envolvidos em ataques a seres humanos e é, junto com o cabeça-chata (Carcharhinus leucas), um dos responsáveis comuns pelos acidentes ocorridos em Recife.

  O ponto 3 assustou. Parece contraditório, mas não precisa ter pânico. Vamos ao restante dos pontos.

  • 4 – O que acontece em Recife é uma série de impactos causados pelo homem que, em conjunto com coincidências naturais, cria um cenário ideal para esses casos. A destruição de recifes de corais para a construção do Porto de Suape e a pesca predatória fez com que a população de peixes recifais, presas preferenciais desses tubarões, se tornasse escassa. Os tubarões chegam famintos depois de longos períodos de migração, não encontram alimento e continuam a procura nadando a favor de uma corrente marítima sentido Suape – Recife. Na capital, despejos de açougue deixam os animais em frenesi, pois até pequenas gotas de sangue são facilmente detectadas pelos tubarões a centenas de metros. As movimentações dos banhistas na água e principalmente o formato de um surfista na sua prancha (muito parecido com uma tartaruga vista de baixo para cima) confundem os predadores.
  • 5 – Em áreas conservadas, o tubarão-tigre se torna um animal inofensivo ao ser humano. Em Fernando de Noronha, por exemplo, é possível avistá-lo com alguma frequência e mesmo assim nunca houve ataques. Em Tiger Beach, nas Bahamas, é possível mergulhar com dezenas deles e até alimentá-los, ainda que essa interação seja frequentemente criticada por especialistas e acadêmicos.
  • 6 – O tubarão-tigre, bem como a maioria das espécies de tubarões dos mares cearenses, são mais comuns em áreas bem distantes da costa, a dezenas ou centenas de quilômetros. Fortaleza não possui muitos recifes naturais em sua área marítima mais rasa. Isso dificulta o estabelecimento de grandes populações de peixes que pudessem atrair esses animais maiores para perto do continente.
  • 7 – O registro de um tubarão-tigre adulto a 1 km da costa é raro. De acordo com o biólogo Danilo Rada, especialista em tubarões, há vários motivos plausíveis que podem levar a espécie a chegar mais próxima da costa.
“O tubarão-tigre é uma espécie que nada grandes distâncias e que procura alimento em grandes áreas. Uma corrente pode ter levado mais nutrientes para a parte mais rasa, atraindo cardumes de presas; a água pode ter ficado mais turva nas áreas mais distantes; uma fêmea pode estar procurando áreas mais rasas para parir seus filhotes. É difícil apontar com precisão, mas isso não significa risco aos banhistas”.
  • 8 – Essa é a época de reprodução desses animais. O professor Vicente Faria, da Universidade Federal do Ceará, afirma que filhotes de tubarão-tigre costumam ser pescados com alguma frequência no nosso litoral durante essa época do ano, indicando portanto que esse seja o período reprodutivo da espécie. As correlações entre os dados de pesca e as discussões biológicas e ecológicas sobre Galeocerdo cuvier são parte de uma Tese de Doutorado em Ciências Marinhas Tropicais, a ser defendida ainda esse mês pela bióloga Inah Sátiro, na UFC. Embora não dê para atestar fidedignamente, é possível que o tubarão da filmagem seja uma fêmea em fase reprodutiva. Faria também endossa a constatação de que isso não representa nenhum motivo de preocupação para banhistas e surfistas.
  • 9 – Não há registros de ataque de tubarões em Fortaleza. Isso é importante de ser ressaltado, porque embora esse caso de um tubarão-tigre seja incomum, há outras espécies que habitam nosso litoral e mesmo assim não oferecem risco. Como já ressaltado, nossas águas não apresentam o cenário apropriado para esse tipo de acidente. Felizmente.
  • 10 – Se existe alguém em risco nessa história, esse alguém é o tubarão. Mais de 70 milhões de tubarões são mortos anualmente para atender a pesca comercial, principalmente para o mercado asiático. A absurda prática do finning, por exemplo, consiste em retirar somente as barbatanas dos tubarões e deixando-os ainda vivos na água para morrerem de hemorragia. As barbatanas são utilizadas como afrodisíaco, ainda que pesquisas demonstrem que elas possuam nenhum composto biológico que sirva para esse fim. Algumas espécies assistiram o declínio de 98% de suas populações somente nos últimos 15 anos e já há mais de 200 espécies ameaçadas de extinção. A pesca local artesanal ou não também entra na conta dessa diminuição e por isso também precisa ser regulada.
  Em resumo, pode curtir sua praia com tranquilidade, entendendo que somos meros visitantes na casa de milhares de espécies que dependem do mar e de seus recursos. Para que continuemos fazendo uma visita tranquila, a conservação dos oceanos e de todas as suas espécies é fundamental.

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