
A conversão de florestas para o uso da terra com elevados custos sociais e ambientais estão crescendo a cada dia com o desmatamento, queimadas e desrespeito aos interesses e direitos das comunidades locais. Cerca de 79% da soja no mundo é esmagada para fazer ração animal e 18% para produção de óleo de soja. A soja é extremamente rica em proteína, o que fortalece os animais. A demanda por carne tem aumentado a cada dia. Por isso, a demanda por soja para alimentar o gado também. Além disso, o óleo de soja é o óleo vegetal mais consumido no mundo, tendo 25% do mercado global.
A área cultivada de soja na América do Sul cresceu mais que o dobro nos últimos 10 anos. A posição de maior exportador mundial da commodity é disputada acirradamente pelo Brasil, Estados Unidos e Argentina. Os maiores mercados são o europeu e o chinês. Em 2008, segundo o Inpe, o gado ocupava 62% das áreas desmatadas da Amazônia. A produção de soja no Brasil, que disputa com os Estados Unidos o primeiro lugar como produtor e exportador mundial, dobrou entre 2001 e 2012, e se estende para outros territórios.
“A primeira causa de desflorestamento na Amazônia Legal foi predominantemente a expansão de pastagens, não da soja. No entanto, em Mato Grosso, houve um aumento da soja nas regiões antes utilizadas para pasto, que podem ter deslocado os rebanhos mais para o norte, nas áreas com floresta, causando desmatamento indireto ali”, explica um estudo publicado na revista Environmental Research Letters.
As plantações de soja em larga escala geram impactos negativos na biodiversidade porque grandes áreas são convertidas para monoculturas visando a produção comercial. Enquanto as monoculturas oferecem benefícios econômicos que não podem ser ignorados, seus resultados vêm predominantemente de desmatamentos e desaparecimentos da vegetação natural, o que resulta em perda de grande quantidade de habitats naturais para os animais silvestres. Os defensivos agrícolas como pesticidas e herbicidas também matam os vestígios de biodiversidade capazes de coexistir com as plantações e diminuem sensivelmente as chances de recuperação dos habitats naturais. As florestas e suas funções naturais são removidas das paisagens e então surgem problemas como erosão do solo e poluição da água com defensivos agrícolas usados nas plantações.
“Os pecuaristas queimam a mata nativa, semeiam o pasto de aviões e depois trazem o gado”, descreveu. “Depois de alguns anos, as pastagens se degradaram, a pecuária vai desmatar outra parte e a soja se instala nessas parcelas abandonadas”, disse a geógrafa Mariana Soares Domingues, da Universidade de São Paulo (USP).
O diferencial deste estudo em relação a outros que vinculam a expansão da soja ao desmatamento, argumentam os autores, é que foi feita uma análise das mudanças geográficas na criação de gado para, levando em conta que a floresta não é derrubada diretamente para dar alugar ao cultivo de grãos, mas sim primeiro à pastagens. Pesquisas anteriores na mesma linha faziam uma comparação direta do uso feito das áreas logo depois de desmatadas, com base em imagens de satélite. A pesquisa publicada na Environmental Research Letters usa dados estatísticos municipais.
“A pressão direta sobre a Amazônia diminui, mas a expansão se faz em detrimento de ecossistemas como o cerrado”, inquietou-se Michael Becker, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
O cerrado, ecossistema de quase 2 milhões de km², situado na região central do Brasil e com grande biodiversidade, forneceu mais de 60% da safra recorde de 2012/13. O Código Florestal Brasileiro, aprovado em 2012, mantém em 35% o percentual de terras que devem ser preservadas no cerrado (contra 80% na Amazônia).
“A soja tem um impacto importante no cerrado, mas nossos clientes europeus estão preocupados com a Amazônia e os indígenas. O mercado não nos pede ainda para proteger este ecossistema”, explicou Pires, da Abiove.
Ecologistas garantem que o Brasil, quinta potência agrícola mundial, pode aumentar sua produção sem cortar uma só árvore.
“O País dispõe de 60 milhões de hectares de antigas pastagens ou de áreas abandonadas. Poderia transformá-las em áreas produtivas e dobrar, assim, sua superfície agrícola”, sugeriu Marcio Astrini, do Greenpeace.
A indústria da soja, que representa cerca de 2% do PIB brasileiro, exerce influência crescente nas decisões econômicas e políticas do País.
Nenhum comentário:
Postar um comentário